8 de dezembro de 2010

Uma década de maus tratos?




Por Fábio Donatelli

A grande torcida do Palmeiras, fanática e apaixonada, foi a mais maltratada do país durante essa década. Para um clube que foi considerado por alguns veículos de comunicação o campeão do século XX, a primeira década do século XXI deve ser esquecida para sempre.

Os apaixonados torcedores vinham de uma década maravilhosa, acostumados aos títulos, com a maior infinidade de craques já vista no país. Desfilaram com a camisa alviverde na década de 90 craques como Edmundo, Mazinho, Cesar Sampaio, Djalminha, Rivaldo, Alex, Muller e Marcos; e outros tantos jogadores que marcaram época no futebol brasileiro: Evair, Zinho, Edilson, Rincón, Luisão, Cafu, Antonio Carlos, Roberto Carlos, Cleber, Junior, Arce, Paulo Nunes, Alex, Cafu, Flavio Conceição, Euller... Todos com passagens pela seleção e alguns titulares em Copas do Mundo. Esse era o costume do torcedor do Palmeiras durante toda uma década.

Até que veio o século XXI. E com ele, o fim da parceira Palmeiras Parmalat, de tanto sucesso para ambas as partes. E o que se viu a partir daí são episódios que a torcida prefere esquecer: rebaixamento em 2002, humilhações na Copa do Brasil para Asa de Arapiraca, Vitória, Santo André, Ipatinga, Sport e Atlético-GO, 2 derrotas para o São Paulo na Libertadores, apenas 1 final de campeonato Paulista (o título em 2008), 4º lugar no campeonato brasileiro como melhor resultado e a vergonhosa derrota para o Goiás na Sulamericana. Esse é o costume do torcedor do Palmeiras nessa primeira década do século XXI.

A época da co-gestão Palmeiras Parmalat chama atenção não somente pelo declínio do clube após o fim da parceria, mas também quando buscamos o longínquo ano de 1976, ano do último título antes da fila de 17 anos. Dentre os fatos acontecidos nesses 17 anos, podemos citar que foram apenas 2 finais: Uma derrota para o Guarani em 1978 no Campeonato Brasileiro e outra para a Inter de Limeira, na final do Paulistão de 1986. E tantos outros momentos que lembram o período atual do clube: derrota para o Bragantino no Paulistão, disputa da Taça de Prata em 1981 e 1982 por não ter se classificado entre os 6 primeiros do Paulista e poucos jogadores com nível de seleção brasileira.

O diagnóstico de tudo isso é um só: administração profissional. Não é a toa que o Palmeiras, durante a parceria com a Parmalat ganhou muitos títulos: havia uma administração profissional, gestores bem remunerados e um plano estratégico voltado para fazer ambas as partes crescerem em seus negócios. O Palmeiras chegou a Campeão da América e a Parmalat conseguiu um dos maiores aumentos de vendas entre todas as empresas brasileiras. Sem a administração profissional, somando-se os 17 anos do período de 1976 a 1993 e mais os 9 anos da saída da parceria, de 2001 a 2010, são 26 anos com apenas 3 finais e um título paulista.

Está mais do que provado que a política dentro do Palestra Itália é a principal fraqueza do clube, ainda mais depois das contratações sem sucesso de Luxemburgo, Muricy e Felipão (até agora). As brigas internas, a disputa pelo poder a qualquer custo, levam a uma insuportável pressão no dia a dia, que impedem um planejamento e execução de qualquer plano que possa vir a dar certo. Enquanto alguns trabalham, a maioria atrapalha e o clube segue sem caminhar rumo ao profissionalismo. Do outro lado, insatisfação dos torcedores de verdade e politicagem que chega a algumas torcidas organizadas.

E pra piorar ainda mais a situação, outros clubes que já estavam na frente em termos de administração, seguem ampliando sua vantagem sobre o Palmeiras. Essa situação é refletida em títulos, disputas da Libertadores, jogadores mais competitivos e novos ídolos dos clubes. Não é a toa que Inter, São Paulo e Cruzeiro tenham sempre times competitivos, disputem títulos e passem longe da queda para a 2ª divisão, mesmo não sendo as maiores torcidas do Brasil. Até o arqui-rival Corinthians mostrou ter aprendido com a Série B. Em outros tempos, uma derrota como a que aconteceu para o Flamengo na Libertadores, não seria esquecida tão facilmente e o clube não estaria lutando pelo título na última rodada do Brasileirão. E foi esse aprendizado da queda para a Série B que levou o Corinthians a colocar profissionais remunerados em algumas de suas áreas, como o marketing, que tem uma estrutura razoável para o padrão do futebol Brasileiro e ajuda o clube a ter o maior faturamento do país. Não dá para fazer futebol, sem ser profissional.

Aos apaixonados palmeirenses, dói saber que essa próxima década pode ser tão ruim ou pior do que a que passou, se nada mudar lá em cima. Mas a esperança está sempre concentrada na força da torcida. Um clube como o Palmeiras, se bem administrado e com o amor da torcida, volta a ser competitivo como na década de 90, em poucos anos.

2 comentários:

  1. é, cara, eu acho muito natural esse momento de transição pelo qual os clubes grandes passam aqui no país, principalmente. dói para o torcedor, claro, mas não há quem não tenha passado ou não vá passar por isso.

    futebol é cíclico. é preciso levá-lo sabendo muito bem disso.

    muita boa esta tua postagem!

    grande abraço.

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  2. Parabéns!

    Excelente análise, além de bem escrita!

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